O assassino Lobo Solitário, em serviço...
Sangue espirra e goteja de uma fenda aberta a aço na cavidade craniana de um homem. Olhos profundos, cheios de uma ira interior combinam aspectos impensáveis para a ocasião: uma espada Dôtaniku, uma metralhadora instalada no fundo de um carrinho de criança, um molequinho de três anos em meio a uma turba furiosa, cuspindo não mais do que ameaças de um futuro vermelho.
Lobo Solitário/Kozure Okami (Panini Comics, 320 pgs, Mensal, R$12,90) é assim. Desafiando a autoridade do regime da época (Tokugawa), Itto Ogami, do dizimado clã dos Executores, rejeita o ritual do sacrifício (Seppuku, Harakiri) e se transforma no terrível Assassino Lobo Solitário. Quer dizer, solitário mais nem tanto, pois Itto esta sempre acompanhado de seu pequeno filho Daigoro, trilhando a Meifumadô, o caminho entre os cinco mundos que existem após a morte.
Para entender melhor a trama é a seguinte: No Japão Feudal da era Tokugawa (que durou de 1600 à 1878) as pessoas estavam confinadas a 4 tipos de classes, onde cada uma tinha uma rígida norma de conduta. Os camponeses só podiam plantar a terra, mas tinham que pagar uma grande quantidade de seus grãos para os Samurais, e ainda por cima eram obrigados a viver no mesmo lugar, sem poder se mudar, ficando na mesma miséria de sempre. Os artesãos podiam até ter uma vida melhor, mas não mais difícil, alguns conseguiam prosperar, forjando espadas ou outros utensílios, mas no fim, tinham uma vida geralmente parecida com a dos camponeses. Os comerciantes também tinham muitos problemas, pois havia um dito Confuncionista que dizia "O Mercador vive do fruto dos trabalhos dos outros", o que é um pusta estigma ruim para seus negócios, mas mesmo assim, dentre as classes, era aquele que poderia enriquecer com um pouco mais de facilidade. E por fim chegamos a casta dos Samurais. Bem, eles eram guerreiros refinados, seu nome quer dizer "Aquele que Serve" e sua relação e hierarquia é meio complicada de se explicar. Mas vamos lá! Existia no topo da hierarquia Japonesa o Imperador, que era muito mais um fantoche que uma figura politicamente ativa. Tinha suas regalias, mas nada mais. Daí tinha o Shogun (General), que detinha um poder absoluto sobre o Japão, mas apra cuidar melhor do país ele delegava Hans (terras) para outros Samurais bem aventurados cahamdos Daimiyos. O tamanho desses "hans" era medido em produção de kokus, que seria de 180 litros de arroz, o tanto da refeição de um homem em um ano. Os Samurais também eram os únicos que podiam portar armas, e também tinham o direito de matar qualquer pessoa de outra classe caso tenha algum motivo bom (hmmm, não tão bom assim, se um campones tombasse no arrozal e, sem querer, sujasse um Samurai, esse poderia sair e matar toda a família para servir de exemplo...), e uma pá de outras coisas. Mas também tinha que manter um certo decoro e modos perante seus semelhantes, e caso pisasse na bola, tascavam-lhe Seppuku na cabeça! Isso aliás, era uma honra, quando o caso era muito grave, mandavam matar, decapiar e expor a cabeça do infeliz em praça pública...
Tá, muita história até agora e você não entendeu muita coisa de Itto Ogami? Bem, como eu estava dizendo, era uma honra realizar o Seppuku, só que muitas vezes era necessário um assistente para a execução, que teria que cortar a cabeça do suicida. Isso era uma honra imensa (estranho né, a cabeça é cortada de todo o jeito, mas ainda sim pode tanto virar uma vergonha como uma honra) para o decapitador, ou até mesmo para o decapitado, quando seu auxiliar era alguém importante. Para realizar esse serviço, o Shogun nomeu uma das famílias para se tornarem os executores oficiais, a familía escolhida foi a Ogami. Também escolheu outras duas famílias para lidar com problemas vitais do governo, os Yagyu, que seriam encarregados dos Assassinatos, e os Kurokuwa, que seriam os espiões.
Tudo ia bem, até que a inveja fez os Yagyu tramarem um plano sórdido contra os Ogami. Após voltar de uma execução Itto Ogami encontra todos em sua casa mortos. Seus servos, família e mulher... mortos. Mas dentro desta ainda residia a vida de Daigoro, Itto faz uma cesariana em sua finada esposa e pimba, seu filho ta viva! Êba! É um menino! Bem, depois de um tempo, chegam alguns homens do governo e acusam Itto de traição. Eles chegam a uma espécie de templo onde são guardadas as tabuletas dos homens mortos pelo Lobo, lá eles encontram uma tabuleta com o símbolo do Shogun, o que seria considerado um ato de traição por parte de Itto! Porém, o experiente samurai descobre a farsa plantada pelos Yagyu e derrota todos. Algum tempo depois, ele está com Daigoro, ainda muito pequeno, aguardando para a execução (isso, do filho dele também) quando começa a bater aquele remorço e raiva e tal e ele pergunta para Daigoro, qual caminho deveriam escolher. Para isso ele coloca uma bola de um lado, uma espada do outro, e espera para ver que lado Daigoro seguirá. Caso ele fosse até a bola, isso significaria que ele gostaria de brincar, e de passar a infância ao lado de sua mãe no paraíso. Caso escolhesse a espada, isso indicaria que ele gostaria de seguir o caminho da Meifumadô, a trilha da morte e da Vingança.
Isso! VocÊs sacaram, ele foi engatinhando até a Espada e assim Lobo Solitário Ganhou vida! (Senão, não teria Mangá pois ambos seriam executados)
Kazuo Koike (Roteiro) & Goseki Kojima (Desenhos) fizeram Miséria nas histórias de Lobo Solitário. Eles conseguiam transmitir com grande impacto e um forte impressionismo parte da realidade da era Tokugawa, os Samurias e a vida da Época! AS questões de honra, vida, morte, costumes, tradições e muito mais estão impressas naquelas páginas em preto e Branco! E tudo isso no início da década de 70! As reações de Itto, mesmo sendo um assassino e um Ronin, sobre temas como vingança, justiça e uso indevido de poder eram claras, ele sempre matava seu alvo, mas reconhecia quando este que ele iria assassinar tinha sua parcela de honradez. Mas em geral, quando ele matava alguém de relativa "boa indole", os mandantes tentavam eliminar o Lobo Solitário, e só ficavam no "tentavam"! Mas talvez o ponto mais legal do mangá fosse Daigoro. Sem ele, Itto seria só um aventureiro "comum". A relação de pai e filho é muito bem descrita, como ambos são diferentes do resto. Algumas histórias focam-e em Daigoro, onde mostra seu desenvolvimento no meio do mundo violento de seu pai. Posso dizer que Daigoro é com certeza a estrela do Mangá! Suas feições desenhadas com perfeição por Kojima conseguem mostrar tudo o que ele sente com muito realismo, o que ajuda e muito para que o leitor possa se envolver com o enredo!
Muitos filmes também foram feitos a partir a história de Lobo Solitário, e são clássicos do cinema Japones! Atualmente, Lobo Solitário está sendo publicado pela Panini Comics, estando na sua Sétima edição (num total de 28)!
Bom, Estaí uma dica... Ciao