sexta-feira, março 27, 2009

WATCHMEN - O FILME


É minha gente, é do "Visionário" criador de 300... e olha que esse é o poster Português, o pá!


Tudo bem que o filme já saiu faz tempo, mas só agora eu finalmente consegui ir vê-lo. Chegou aqui no cinema, mais lerdo que o Flash Bizarro da minha cidade, então... Enfim, irei dar minhas opiniões a respeito da adaptação de Watchmen.

Antes algumas palavras a respeito da obra.



Quadrinhos AW e DW


Não tenho dinheiro para obter o Absolute Watchmen :-(



Acho que poderia ficar definido que os quadrinhos podem ser separados em AW e DW, antes de Watchmen e Depois de Watchmen (dããããã, desculpem a obviedade e a explicação da mesma meus caros hehehehe).


Talvez seja muita fanboyzisse dizer isso, visto que existem muitas outras HQs que mudaram a cara das publicações, mas em certo âmbito, Watchmen foi o que culminou no fato de HQs se tornarem mais do que uma diversão para crianças. (Junto com DK, mas isso é outra história).


Watchmen tinha muitas idéias que na época eram um tanto raras. Mostrar heróis mais humanos, com necessidades físicas, jurídicas, mentais e etc. Eram pessoas que podiam adoecer fazer sexo, trair, ter nenhum escrúpulo, enlouquecer e ter tantos defeitos que, sinceramente, não seriam os mocinhos e mocinhas que gostaríamos de ver nossos filhos colarem pôsteres em seus quartos. (Bom eu não tenho filhos, mas enfim, acho que muitos pais puristas não deixariam). Ainda mias com uma narrativa intrincada, com mais detalhismo, meta-linguagem e metáforas litero-visuais. Com uma própria linguagem muy enriquecida em padrões literários.


Quando comecei a ler HQs, mas digo ler mesmo, foi por volta dos 18 anos. Antes lia algumas coisas picadas, mas nada muito sério. Até ler sobre Watchmen, as idéias nele representadas e tudo mais. Tanto que quando li, li duas vezes seguidas para captar melhor de tudo que essa obra tem a oferecer. Então de certo modo, Watchmen é para mim como um batismo, uma meta, um destino e um termômetro do calor das minhas idéias.


Dito isso, sou um purista sim, mas tentarei me ater ao bom senso e aos fatos.



Adaptar o Inadaptável


Bernie e Bernie



Bom, primeiro ponto que quero deixar bem claro, é que há muitos anos tentaram fazer filmes de Watchmen. Qualquer um pode procurar na net e achar detalhes sobre os projetos do Terry Gilliam, Paul Greengrass e etc.


Veja bem que falaram muitas vezes que Watchmen era inadaptável. Sinceramente, eu digo que realmente é, mas vamos separar algumas idéias aqui.


Uma obra não é constituída apenas por um bloco sólido de eventos, cores, conceitos e etc. É muito mais que isso. Se você parar para analisar, muitos diriam “ah é um exagero isso, claro que é possível se adaptar”. E confesso que de uma forma bem louca, está certo! É possível se adaptar.


Mas há adaptações e adaptações.


Como disse antes, uma obra não é um bloco sólido. Ela é mais que isso. Podemos separar Watchmen por alguns blocos menores como:


Enredo: mostrando a idéia básica de “Mundo no Armageddon, e heróis tentando detê-lo. Rorscharch louco investiga morte de Comediante, Jon se exila Dan e Laurie fodem, libertam Rorscharch, Jon convencido por Laurie a ajudar, descobrem que Ozymandias fez tudo, ele faz o plano dele e dá certo, ele salva as pessoas”. Simples e direto, porque é isso ai.


Conceitos: São as idéias que movem o enredo. Eu diria que alguns deles são “heróis como pessoas normais”, “heróis influenciando no mundo rotineiro”, “decisões ambíguas de superpotências” entre outros.


Narrativa: É o modo como a história é contada. Como você pega o enredo e os conceitos e os amarra através do tempo que se leva para digerir a obra.


Posso estar falando somente o óbvio, mas de fato, se você pegar somente o enredo e algumas partes dos conceitos é possível se fazer uma adaptação, mas é claro que ai você terá que sacrificar um pouco da narrativa, porque meus caros, cinema é uma mídia diferente dos quadrinhos e não é a mesma coisa.


Tanto que quando se fala em “não é adaptável” é mais sobre a parte narrativa de Watchmen que nos quadrinhos é maximizada e muito mais valorizada por esta mídia. Justamente o intuito de Alan Moore e Dave Gibbons ao criar a obra que, ao mesmo tempo em que se aproveita de técnicas cinematográficas, também as expõe de modo a não ser facilmente copiadas por outras mídias. Tal qual o cinema.


Quem "custodeia" os "custodiosos"???


Isso é bem retratado no capítulo 4, onde o Doutor Manhattan fala sobre sua vida, sua visão de tempo e espaço, de mesmo modo que há uma metáfora até que cinética aos quadrinhos, pois há uma maior contemplação dos eventos nos quadrinhos, o leitor olha os quadros e determina o tempo que levará com cada quadro e balão, ele está no controle, enquanto no cinema, por exemplo, ele não exerce esse mesmo controle sobre os momentos, simplesmente se senta e recebe as informações. É uma forma análoga ao próprio Manhattan que vê a vida dele do começo ao fim (se é que terá um fim), sem poder mudar qualquer evento em si.


Há também alguns momentos, como Fearful Symetry, que não podem ser facilmente reproduzidos (eu nem sequer notei isso...), ou então o entrelaçamento de muitas imagens e contextos dentro da história e de suas tramas paralelas, que enriquecem mais Watchmen. Mas até aí é outra questão...


Chegando ao final dessa parte, quero dizer que entre aqueles que falam sobre impossível de se adaptar e pode ser adaptado, dou razão a ambos os grupos, porque em parte é possível se adaptar a obra e em outra, é extremamente difícil, por muitas questões, tanto técnicas como até mesmo de “interesses”. Mas vamos seguindo...



Dissonâncias


"Um relógio COM relojoeiro... E com um tique estranho que não sai da cabeça..."



Bom, vou falar sobre minhas impressões gerais do filme.


O primeiro ponto é que achei o filme um tanto... Acelerado. Sim, eu fui vendo e sentindo que ele foi muito acelerado. Parece que a cada segundo tinha alguém esperando “a deixa”, ou pipocando de algum canto para falar ou fazer alguma coisa. Isso é até entendível, já que é uma trama complexa e como o Snyder queria ser fiel e colocar muita coisa, dá até para entender. Mas mesmo assim achei o filme um tanto rápido, não dá muito descanso para quem está vendo e tem poucas cenas mais longas e densas. O que realmente acho que afeta um pouco o clima “noir” em algumas partes. Novamente é algo do tempo, mas afeta um pouco.


- Ow, puxa...



Podem até dizer que o Moore chapa de textos na HQ, mas é o que eu disse acima, você tem um controle maior sobre esse “timing” nas HQs do que no cinema, então não é algo a se apertar o pescoço por enquanto.


Segundo, as alterações na trama. Novamente a gente pode ver algumas coisas mudando aqui e acolá, o que é até entendível, aliás, tem muita coisa que é “entendível”, só pra falar aqui rapidamente, que é de mudança de mídia. Mas como posso dizer, algumas mudanças são um tanto incômodas na relação ao que era anteriormente, como por exemplo, o Dr. Manhttan trabalhando com o Ozzy. Acho isso um pouco forçado, pois o Manhattan nos quadrinhos está um patamar a cima da humanidade, e como ele mesmo disse e repetiu no final do filme “o mais inteligente dos homens não é mais nada para ele como o mais inteligente dos cupins”, ele não trabalharia com o Ozzy porque a mente dele está muito a cima do resto do mundo. Só que parece que são “casos e casos”. Por um lado falam que ele está se distanciando e por outro mostram que ele está próximo, então parece que em um momento, quando é favorável ao prosseguimento da trama, ele assume essa ou aquela posição, o que é bem “cômodo” para se entender, mas se apreciar de perto não é aquelas coisas. Isso eu digo, até para o resto do filme, tem alguns momentos como esse.


Sobre o polêmico final eu falarei mais para frente. Mas pode ficar com outra opinião, clicando aqui)


Terceiro, sobre os atores e os personagens. Vou fazer uma listinha aqui:


Manhattan: Como já disse a cima, ele ficou muito “instável” no patamar de “acima do muro” que ele fica. Em certos momentos ele fica meio choroso, mesmo mantendo o mesmo tom de voz. O Manhattan até tem mais sentimentos quando está recém transformado, pois ai sim ele vai se distanciando, e naquele momento que ele explode e tele transporta a galera toda para fora (que, aliás, seria um efeito bem legal de se fazer), seria um dos poucos que El demonstraria alguma emoção no tempo atual. No mais só como eu disse acima, tem muito disso dele “em um momento, estar distante e em outro, estar próximo” que não casaram lá muito bem com o personagem na trama. Quanto ao ator, Billy Crudup, foi convincente no papel, apesar de não fazer muita coisa, mais quando o mostrou ainda como Jon.


Silk Spectre Filha: Malin Akerman só serve para ser gostosa. Ela tinha a MESMA expressão o MESMO tom de voz em todas as cenas praticamente. Estava mais robótica do que o Manhattan! Quanto à personagem, acho que a Laurie dela ficou só safada... É isso ai... Safada e é isso, não tem muito que se colocar. Não tem a posição dela contra o Rorscharch, não tem muito o confronto dela com a mãe ou o ódio ao Eddie que ela sempre mostrava... Além do mais, poderia se chamar de Látex Spectre mesmo.


Silk Spectre Mãe: Carla Gugino é gostosa, mais que a filha no filme! Foda é que ela ficou uma velha até muito comível como acho que será aos seus próprios 67 anos. Mas enfim, ela aparece lá na cena do estupro e nas reclamações com a Laurie, mas não tem o mesmo impacto. Aparece a Tijuana Bible (o que é bacana de ter sido colocado), mas ela parece muito socialite e não tão decrépita. Fora que a cena final perdeu o glamour por aquele “beijo na foto do Comediante”. Aliás, tirando o estupro parece que os dois eram muito íntimos, como na teoria de que ela QUERIA ser comida e violentada. Mas isso fica para depois...


Nite Owl I: Ainda não vi Sob o Capuz, mas a participação dele é mínima, visto que não morre por acaso e etc. Ele aparece rapidamente, tomando uma cerveja e falando como um tio. Acho engraçado que uma parte ele fala palavrão e na outra reclama do Dan por falar também hahahaha, mas foi bem suave a participação dele, assim como achei legal ele já ir explicando o começo dos heróis e tudo mais.



Nite Owl 2: Olha, o Dan ficou meio bobão demais e depois meio Batman demais. Acho que ele foi um pouco ao extremo dos dois lados. O Dan não é um cara patético, é de certo modo um cara receoso com as escolhas da vida dele. No fim é só um cara que tem que bater em bandidos para ter umas ereções pra cima da Dusk Woman. E que se parece com o pessoal do Devo. O ator, Patrick Wilson, foi um tanto nulo em relação ao personagem, mas em geral acho que não estragou sua participação no filme. Mas pqp, como ele lembra o Gob de Arrested Development.


Comediante: Realmente o pai dos Winchester foi muito bem como o Blake. Não há que dizer. O personagem ficou muito parecido mesmo, marcou ponto em todas suas cena-chave e não fez feio. Talvez o único fato marcante, é que eles terem inserido a parte da cicatriz na história, mas depois parece que se esqueceram dela. Jeffrey Dean Morgan mandou bem e ponto. Tem gente falando que poderia rolar um filme spin-off dele, com aventuras do Comediante, mas seria um filme Spin-Off com um personagem ultra-violento de um filme que é candidato a virar "cult"... (sim, acredito que pode vir a virar cult, mas continuem lendo meu povo!!!) Pouco provável de vir a se concretizar...


Ozymandias: Fraco. Muito fraco. O ator não tem o porte para o Ozymandias. Ele ficou mais feminino do que imponente. Não tem a cara de homem mais esperto do mundo, era até mirrado, realmente foi uma péssima escolha para Ozymandias. Matthew Goode, toma teu rumo!


Rorschach: Rorschach ficou realmente muito bom. Acho que o melhor personagem em minha opinião. É uma pena que não deu para mostrar algumas nuances dele, como a respeito do porque ele ser tão “preto no branco”, do porque usar a máscara e tudo mais. Talvez ele pudesse ser mais bem aproveitado, porque em Watchmen o Rorschach bem utilizado poderia fazer frente até o ótimo coringa do Heath Ledger, mas acho que devido ao tempo ele só brilhou o suficiente para ser o melhor do filme. Sério eu não diria que o Jackie Earle merece um Oscar pela atuação, mas foi bom e que se fosse mais bem aproveitado poderia sim render uma participação fantástica, como eu disse ele fica lá com os ares de lunático raivoso, mas perde muito em profundidade psicológica com o Rorschach original. Mas o ator poderia levar de boa essa carga que representaria muito bem o papel. Agora chega de elogio, cacete! Para dizer que não falei só bem, esqueceram de dizer que ele só fica com voz diferente quando está com a Máscara. Sem ela, ele é monótono e sem expressões.


A respeito dos demais personagens, coadjuvantes e tudo mais... Achei que eles foram muito bons. Os Minutemen ficaram perfeitos. Silhoutte é um tesão maravilhoso. Nite Owl ficou idêntico, assim como o resto dos personagens. Moloch ficou bacana também.



O Clima de Watchmen combina pra cacete com KC & the Sunshine Band. Faltou Bee Gees.



Quarto: A música. Achei a trilha sonora... Péssima. Sim, não gostei. Olha, até ficou excelente a música do Bob Dylan na abertura, ou a Unforgettable no começo, mas daí para frente desandou muito. As músicas como 99 Luft%$##@Ballons e Hallejuah (acho que é assim que se escreve) estragaram o clima das cenas. Aliás, a própria HQ já fornecia algumas músicas interessantes para serem colocadas. Dá até para entender a situação, mas não casa muito com o clima. A música lá no meio da revolta, meio Disco, até que é uma boa sacada por que isso realmente é uma tática de guerrilha psicológica, mas acabou com o clima. Ou seja, acho que apesar da boa vontade, as músicas foram aclimáticas em vários pontos. Como Aleluia (vai em português mesmo), tirou muito o lance noir da cena de amor dos dois (que pqp, foi exagerada demais hahahaha, mas não que isso seja ruim). Adoro o Jimi Hendrix, mas também não colou na hora que inseriram a música.


DEVO. Ficaram devendo mesmo.



O resto das músicas que aparecem no CD de trilha sonora, sinceramente não consegui captar durante o filme. passam que nem se nota, ou só são tocadas no final, como Desolation Row, cagada pela MCR. E vou dizer, que quanto a trilha musical de background, eu achei interessante e melhor em muitos momentos do que as músicas escolhidas...


Em suma, acho que muito se perdeu por faltarem muitos detalhes. A adaptação dá até para se levar em alguns pontos, acho que está longe de ser uma adaptação boa, por mais fiel que “queira” ter sido, mas perde-se muito do brilho da HQ original, e acho que quando o Snyder adicionou algo, até que ficou bacana, mas quando alterou, ai ruiu muita coisa.


A Criptografia das Nuances


- Doutor Tobias Fünke Manhattan. Finalmente conseguiu um papel de destaque!


Como eu disse tem muitos detalhes faltando e muitas mudanças que estragam o andamento e a coerência da trama. Vou ir contando alguns pontos.



Não tem o velho jornaleiro com o moleque, não tem nó górdio, não tem lésbicas briguentas, não tem muito detalhismo nos policias perseguindo o Rorscharch... Ou seja, essas tramas paralelas foram todas dispensadas. Pode se falar que, para a trama principal, não tinha nenhum valor, mas acho que para a ambientação tinha um grande valor. Esses momentos mais lentos davam outro clima ao ambiente. Havia mais o lance da paranóia da guerra apresentando. As pessoas não saibam se isso ia acontecer, algumas pensavam que sim, outras achavam besteira, algumas riam e outras matavam as filhas e se matavam... Elas tocavam sua vida, apesar de tudo. Quando se retirou esse ponto, perdeu-se muito em ambientação, pois só se via a guerra vindo e vindo, e vindo e “pqp, já estão quase no buraco”. Claro que há isso na HQ, mas como eu disse, em outro ritmo.



Agora voltando aos detalhes da trama. Como já disse a cima, o Manhattan está muito instável. Primeiro ele diz logo quando o Rorschach chega que vai ter explosões atômicas, ai diz que tem corpos e cadáveres (isso mais de duas vezes), enquanto trabalha para mudar o futuro... Trabalha com o Ozymandias... Nas bombas Manhattan, depois tem um relatório falando que ele estava se distanciando da humanidade por ser um ser superior e ai há a preocupação do que ele irá fazer... Bem são muitas incongruências que desacreditam o personagem. Primeiro que ele não trabalharia com o Veidt (como nunca trabalhou com ninguém mais que ele mesmo). Segundo que ele já teria inventado uma ótima fonte de energia anos antes (vide carros elétricos com bateria de lítio), Terceiro: repentinamente ele volta a se preocupar com a terra. Quarto: ele tenta alterar o destino dele, quando, de fato, ele realmente nunca nem sequer levanta um dedo, pois está acima disso. Quinto: no final ele concorda com o plano do Veidt, mas de um modo tão veemente que ele não precisaria nem sequer enganar o Jon, só colocar ele no plano...


Enfim, são coisas em cima de coisas.


Acho que o principal fato que desamarra a trama é a substituição do alien por “bombas Manhattan”. Sinceramente, esse final não cola. A não ser que você veja e não queira nem sequer pensar em mais nada. Acho que o filme funciona bem para quem não fica pensando muito nas coisas, o que é muito difícil para os fãs de Watchmen que justamente estão, até por lerem a obra, acostumados a procurar as nuances e mistérios de quadro em quadro e fala em fala.


Vamos lá:


O Comediante encontra o laboratório do Ozymandias. Não em uma ilha e procurando a respeito do que está acontecendo, mas em Karnak. Têm suspeitas mesmo do que ele faria o que nunca ocorre na HQ por... Não ter o que ocorrer. O que ele descobre é um plano para bombardear a terra... Sim, bombas... Isso não é nada mais que um atentado de terrorismo global. Além do mais o Doutor Manhattan sempre foi uma ameaça vinda dos EUA, se ele ameaçasse o mundo todo, o resto do mundo poderia até se unir, mas o próprio clima de guerra fria não ia deixar isso barato, os russos provavelmente iriam falar algo como “sim, mas esses malditos yankees que cultivaram essa arma contra nós e que causaram esse medo e perigo global”. Então ao trocar a face desse temor, de uma face alienígena que ninguém realmente conhece de onde veio, por uma conhecida, que veio dos EUA e que foi a maior “arma de guerra” do embate... Fica meio duro de engolir. Ainda mais com a Bubástis lá... Sem o menor motivo. A Bubástis é um tipo de “teste” genético de eugenia para a elaboração do alien. Sem o alien, pra que ter Bubastis então? Bonequinhos?


TOMA NA CARA BLAKE!


Mostrando a criação do Doc Manhattan, eles pulam a parte toda da teoria do caos, de “quem faz o mundo”, que é um dos grandes baratos da inserção dele e na estrutura da HQ. Afinal, sem ele, o mundo todo seguiria uma história parcialmente normal, sem esse confronto da Guerra Fria mais forte do que nunca. Ou seja, não mostra o pai dele decidindo o que ele vai ser, ele apresentado a Janey, que leva para passear, quebra o relógio dela, conserta e por aí vai...


Na parte da fuga da cadeia, uma coisa bizarra é que parece que o motivo da rebelião era pegar o Rorschach. Não é isso. A rebelião acontece por que os presos não QUEREM estar lá com o Rorschach. Tanto que fica um pouco estranho o Big Figura falar que tem uns “50 caras” que ele colocou lá dentro e no fim só tem dois com ele, ao invés de pelo menos uns 10 para dar uma surra no Kovacs. Fica meio estranho isso, além do mais perde um pouco o brilho da atuação do Malcolm, o psicólogo dele, que pouco a pouco é consumido pelas idéias do Rorschach. Sem falar no Decreto Keene que de repente é ignorado depois que eles soltam o Rorschach da prisão, ninguém vai atrás do Coruja, eles tem todo o tempo, sem perseguição ou problema e etc.


Outro ponto é a morte do Rorschach pelas mãos do Manhattan (aliás, acho que o Manhattan não explodia ninguém, só desatomizava, como um teleporte sem retorno ou algo assim), que o Dan fica puto. Dá uma surra no Ozymandias e só. Olha, a idéia toda era dar uma ambigüidade para a figura do Ozymandias, na HQ sentimos que ele realmente faz tudo aquilo, mas não gosta do que faz, no filme ele fica com ares de louco megalomaníaco, o que perde muito no quesito “será que ele estava certo”? Que é o grande lance do final, deixar todos em cheque. O filme meio que cospe em cima disso como se dissesse “está errado... mas não temos escolha”.


Como já disse, Watchmen é uma obra de muitas nuances, de vários detalhes e quem leu está acostumado a procurar esses detalhes. Alguns podem relevar e outros não. Acho que muito da magia da HQ se perde. O lance da HQ faz você pensar em muitas coisas, enquanto o filme por outro lado escancara.


Vou dar um exemplo citando o personagem Moloch. Meu amigo Felipe Massafera me perguntou uma vez “qual é a das orelhas do Moloch”. Por serem um pouco pontudas. O único personagem com poderes realmente com algo diferente, era o Manhattan, o resto seriam seres humanos comuns. De fato, ele não tem nenhum super-poder, mas eu fui imaginando, que como ele se apresentava como “Moloch, o místico, se as orelhas dele não eram um defeito Genético, o fazendoele ficar com esse rosto meio diferente e com as orelhas pontudas (nem sei se isso tem em algum caso registrado, mas esses tipos de “freaks” não são impossíveis), e por isso passou a ser cuidado por algum circo de horrores ou algo do tipo, se tornando esse cara meio mágico meio monstro. Talvez ele tenha uma mente que, na época, o transformava em um oponente valoroso e que declinou na idade, mas uma mistura de soberba, com aparência esquisita e talvez um pouco de rancor com a sociedade o transformaram nesse inimigo dos Minutemen por tantos anos. Em nenhum momento isso é afirmado pela obra, isso é tudo conjectura da minha cabeça com as pistas que tenho, mas veja que isso é algo até recorrente em vários momentos da obra e assim a torna mais interessante e desafiante de se ler e entender em vários níveis e detalhes.


Vejam bem, muitos falaram na violência e sexo muito explícito. Também vejo alguns pontos interessantes da HQ que só ficam com pitacos para que o próprio leitor descobrir, acabarem sendo meio que jogadas na cara do leitor. Silhoutte lesbona, Ozzy gay, Comediante matando Kennedy e etc. Pelo que eu entendo, violência e sexo vendem. Vendem e chama a atenção mais do que qualquer outra coisa. Então é mais fácil para chamar a atenção ter os dois lados mais acentuados do que se trabalhar melhor a trama com o tempo que tem. Eu acharia muito melhor uma coisa mais suave com mais ajuste na trama do que toda essa coisa escancarada, mas o que o público quer é sexo e sangue.



Quanto ao slow-motion, sinceramente tem bastante slow-motion sim! Você muitas vezes não percebe porque são usados para desacelerar algumas cenas com diálogos que, em velocidade normal, perderiam um pouco do timing, mas em cenas de ação ficam um pouco exageradas, como na explosão do apartamento e o atentado contra o Veidt. Meu amigo Fábio disse que essa cena era um lance sobre o bullet time... Mas acho que a cena em si não ficou tão legal.


Enfim, meu veredicto sobre a obra é: as nuances foram ou ignoradas, ou mal-elaboradas. Alguns amigos que leram e gostaram, mesmo “gostando” acharam algo um pouco estranho, como se faltasse uma coisa. Eu acho que foi exatamente os pequenos detalhes que enriquecem todo o enredo de Watchmen. Só ai que vemos que tem algumas culpas e razões...



Dicotomia dos Destinos


Acostumem-se. Agora vão ter muitos civis assim nos Halloweens da vida.



Veja bem. Acho que o Snyder gostaria de ser o mais fiel possível a HQ. Comparando com os projetos anteriores, acho que sim, ele foi bem mais fiel a HQ do que outros seriam. Mas até aí, acho que poderia ser melhor.


Não me venham com “ah ele colocou isso e aquilo”, que não serve. Afinal ter algo não justifica a falta de outra coisa, só é a obrigação de colocar o original.


Sério que vão vender isso mesmo? Digo, quando fui ver, tinha uma mãe com duas crianças atrás assistindo. Eles foram embora na cena da trepada da Spectre com o Dan... Claramente, pela classificação indicativa não é filme de criança... agora, que marmanjo compraria um troço desse feio pra xuxu?




Entretanto acho que isso se deve a N motivos. O primeiro seria o próprio tempo da película. Como já citei, achei o filme rápido. E isso porque ele não colocou as subtramas. Mas isso é a própria pressão do estúdio, um filme lento é mais difícil de digerir, ainda mais com menos ação e mais pensamento. Veja só, o Snyder disse que excluiu o alien porque isso iria tomar mais tempo da trama por exemplo. Talvez sim, já que ele teria que mostrar os desaparecimentos e alguns detalhes a respeito disso. Eu acho que daria para colocar da mesma forma que colocou a trama das bobinas. Ficaria melhor e acho que surpreenderia tanto os espectadores quanto os leitores, e ainda restariam cadáveres nas ruas hahahaha (pois é o Manhattan diz duas vezes que se vê andando por entre cadáveres... só que na hora. cadê??? Todos foram desintegrados como deveria ser o resto do povo que ele explode).


Veja bem que tem muito a questão do tempo e o outro lado, o lado comercial de inserir mais luta e sexo para agradar o povão, que adora uma “suruba carnificínica”. Uma obra mais entendível, onde seja mais digerível sem se pensar muito. O que, no fim é um pouco contraditório, já que transformar uma obra pensante por si só em algo mais fácil de captar faria perder mais o brilho da obra original Eu digo isso porque se Watchmen fosse nas telonas o que foi para as HQs, com certeza levaria oscars de melhor filme, roteiro adaptado, melhor ator e etc. Sem exageros, acho só para dizer em nível de comparação. Blockbuster não é bem a cara da obra original senhoras e senhores.



Para quem não conhece, acho que ficará uma sensação esquisita na cabeça. O filme tem essas incongruências, mas é passável, mas a ação não é o suficiente, a reflexão com o super-herói não atinge, nem como nível de símbolo da salvação e por isso as pessoas que são, digamos, um nível médio e não querem refletir muito a respeito, não deverão gostar quem mesmo sem ler gostar de algo mais pensante, pode gostar e relevar essas informações. Os leitores mais ferrenhos (como eu) podem gostar ou no máximo sentir aquela pontada de “falta algo”, enquanto os leitores mais regulares podem ler e ver e achar bacana, pois é o melhor que podia ser feito.

Mas voltando ao Snyder, acredito que ele tentou fazer o melhor que pode. Mas não acho que foi o suficiente para fazer uma adaptação de altíssimo nível. Algumas decisões dele fizeram o filme ficar meio estranho em relação a HQ, mas dá para entender a intenção dele e até perdoá-lo por isso. Watchmen caberia melhor em uma minissérie de 12 episódios, por exemplo, com um clima mais sombrio e noir do que o filme mostrou (vide: musicas cagando em várias cenas), e acho que, a provável versão do diretor com contos do cargueiro incluído (dizem que terá cerca de 5 horas), provavelmente será muito superior, sanando muitos pontos que eu citei acima como defeitos, como velocidade e falta de junção de algumas coisas.


Enfim, achei o filme incompleto. É a sensação que eu tenho. Como se pegassem um livro e riscassem umas palavras, frases, e páginas e no final, lendo o livro só restasse metade da obra original. O que sobrou foi insuficiente, daria uma nota 5, 6 no máximo, mesmo entendendo as causas, porquês e demais fatores, se deixar levar por isso no julgamento do produto final é ser iludido por desculpas por não fazer algo tão bom. Se um cozinheiro se esforçasse para fazer seu almoço e este ficasse ruim, você poderia até entender o esforço do mesmo, mas não mudaria o fato do almoço estar com um gosto ruim.



Espero que a versão do diretor esteja mais bem elaborada, porque realmente esperava isso do Snyder e Watchmen merecia ser um filme melhor, sem todos esses entraves e indolências.


No mais... Ozymandias, você não é o vilão da história em quadrinho, infelizmente, é o vilão do cinema meu caro...


PS: Vejam o Cartoon Anos 80 de Watchmen. É muito engraçado!

4 comentários:

Anônimo disse...

Como assim o Ozy nao é o vilao das HQS? Isso é aberto pra gente decidir, ora!

Philosophista disse...

Então, o que eu disse é exatemente isso. No filme essa questão fica muito fechada. O Dan surra o Ozymandias e dá uma "lição de moral", para deixar tudo com o gosto de "VcoÊ é um vilão louco e foda-se", nas HQs isso fica realmente ambíguo.

NA HQ ele diz "Hora Dan, você acha que eu sou um vilão de cinema para revelar meus planos com a mínima chance de vocês impedí-los???" no cinema essa fala se inverte para "Hora Dan, você acha que eu sou um vilão de histórias em quadrinhos..."

Só que essa inversão mostra que de fato ele é O vilão do cinema que o da HQ cita, mas ele não é nem de longe perto do que o Ozzy representa na HQ...

entendeu?

Diego disse...

"O Dan surra o Ozymandias e dá uma "lição de moral", para deixar tudo com o gosto de "Você é um vilão louco e foda-se", nas HQs isso fica realmente ambíguo."

Lembro de sair do cinema reclamando justamente disso.

Excelente crítica, por sinal.

Philosophista disse...

Obrigado Diego...

Eu acho que essa parte ficou um tanto forçada, por três pontos:

- A velocidade do filme, que não deu tempo de espaçar e trabalahr mais as cenas , veja que eles entram em Karnak já na sala do Veidt, a principal com TVs.

- A destruição da cidade foi amenizada, em um ponto de vista humano. A Laurie vai lá com o John e vÊ um buraco, isso é uma puta destruição, mas falta aquele elemento humano de ela presenciar centenas de cadáveres mortos pela onda de choque psiquíca. "Essas pessoas só buscavam felicidade", e por isso acho que ela fica menos onsternada e mais furiosa o que leva a Dan ir confortá-la na HQ logo depois que Rorschach sai...

- O fato do que o Dan e o Kovacs eram mais amigos no cinema do que na HQ. Acho que nas HQs ees eram mais uma dupla de heróis fazendo cross, mas nada de mais além dessas aprceridas, enquanto no filme tem a leve impressão que eles eram amigos mais genuínamente que foram separados pela lei Keene...

Enfim o Dan nem liga muito para o Rorschach que é um cara que seria rotulado de louco pela sociedade, e o Manhattan o mata só para ter certeza que ninguém o ouviria. Mas o Dan batendo no Ozzy é realmente o "sacrifício necessário para que ninguém entenda mal o filme e veja um ato de terrorismo como algo de bom de verdade..."

É 9/11 doendo no nó da garganta até hoje amigos...