Uau! Que título ein!!! Bom, to aqui para cumprir o prometido. Eu terminei a terceira parte do roteiro que estava fazendo para o Projeto EffectMan, então vou falar um pouco aqui de um dos meus personagens FAVORITASSOS, o Miracleman.
Mas para falar do Miracleman e sua origem, é preciso explicar algumas coisas em seu passado, ainda mais par ao s leigos, que é importante dizer. Miracleman foi um “plágio” de um “pseudo-plágio”. E é incrível como a visão do Moore superou ambos. Mas é só minha opinião como fã louco e descontrolado do Rouxinol de Northampton.
Em 38 inventaram o que é considerado o primeiro Super-Herói e o marco da Era de Ouro dos Quadrinhos. Ninguém menos que o ceroulento do Super Homem. Antes dele as revistas em quadrinhos eram mais aventurescas, com gênios da ciência, dos treinamentos secretos no Himalaia e esse tipo de coisa, mas nenhum tinha o que chamamos de “Super-Poder”, todas as habilidades possuídas por Doc Savage, o Sombra ou Flash Gordon eram coisas que uma pessoa comum poderia ter com grande treinamento e estudos (claro que mesmo acima da média humana, beirando o extraordinário, mas ei, é ficção apesar de tudo), só que o Azulão (não falo do The Tick), mudou pra sempre esse conceito.
Depois do Super aparecer muitos outros personagens começaram a surgir, vendo que ele foi um personagem com um conceito inovador e que chamou muita a atenção. O Batman, por exemplo, surgiu porque queria repetir o sucesso de um herói encapuzado, mas que tivesse alguma coisa de diferente. Bob Kane, o criador do Batman (tudo bem, eu sei sobre o resto da galera que ajudou a criar o morcego), juntou uma pá de referências para criar o morcegão, como um “semelhante” ao Super, mas mesmo assim diferente. Mas o que realmente nos importa falar é do Capitão Marvel.
O Capitão Marvel foi um personagem criado para a Fawcett Comics em 39 pelo artista C. C. Beck e o escritor Bill Parker. O personagem era Billy Batson um garoto que é invocado pelo Mago SHAZAM para receber poderes dos deuses para lutar pela justiça. Quando o pequeno Batson gritava o nome do Mago, ele recebia a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio, tornando-se assim o Capitão Marvel.
Em muitos aspectos o Capitão Marvel era parecido com o Super-Homem, Billy era órfão, trabalhava em um meio de comunicação (rádio Whiz), mas era mais na aparência e nos poderes, como super força, resistência e etc. Ou seja, ele era o que tinha mais de aproximado ao status de “campeão de força” que era o super, que agora temos Ajax, Sentinela (da Marvel), Apollo do Authority e etc, que são aqueles caras que são fortes, resistentes pacas, voam e etc.
- Hypérion (Poder Supremo e do UM), Apollo do Authority, Gladiador da Shiar, Sentinela e Supremo. Homenagens...
Entretanto a coisa com o Capitão Marvel é que ele surgiu rapidamente e caiu muito fácil no gosto do público. Isso porque muitos dos fãs se sentiam mais ligados e próximos com a idéia por trás do personagem. Era muito mais fácil imaginar, para uma criança, que um mago poderia te dar esses super-poderes todos se você gritasse SHAZAM do que vir de outro planeta e ser adotado e tudo mais. Além disso, Super-Homem era um Homem, tinha problemas e perguntas de homem, enquanto o Capitão era, ainda, mesmo depois de se transformar, Billy Batson, uma criança como qualquer outra.
Com isso, a DC (não lembro se já era DC ou se ainda usava o nome de National), quis barrar a produção da revista, acusando de plágio por conta das semelhanças que citei acima. O que é uma baita de uma sacanagem, tendo em vista que tanto o Batman quanto o Superman foram criados a partir de uma porrada de outras fontes de inspirações, assim como o Capitão Marvel fez o mesmo ao se inspirar no Super e em outros mitos. Além disso vários heróis surgiram na época, e até o próprio conceito estourou, mas somente por isso o Capitão Marvel foi alvo da DC. Em 1953, a DC vence a Fawcett que é obrigada a interromper a revista.
Isso aqui é só um briefing sobre o Capitão Marvel. Anos depois, a DC compra a Fawcett e todos os seus personagens, com isso a editora começa a produzir a revista, claro, fez mó sucesso, agora tem mais chance de fazer sucesso assim só que lucrando para a DC. Só que a Marvel também estava produzindo seu próprio Capitão Marvel e entrou contra a DC em 1973 para barrar o personagem. Hoje em dia, o Capitão Marvel não consegue se estabelecer em uma revista própria, acredito que ele não possa ter uma com o nome próprio, mas ele aparece sempre na JSA, no universo DC, tendo grande participação da brilhante minissérie Reino do Amanhã, quase como se fosse a “vingança do Marvel”.
Retornado para o Miracleman, em 1954 a revista do Capitão Marvel era uma das mais vendidas e rentáveis no reino unido. Quando a produção foi interrompida a única solução para manter a renda foi criar um personagem “similar” (para não dizer cópia) do personagem. Assim o artista Mick Anglo criou o Marvelman (também conhecido como Jack Marvel, nome cuja Wikipédia, ele foi rebatizado no Brasil), um personagem que tem a seguinte história:
O jovem repórter Mick Moran encontra o astrofísico Guntag Bornhelm (se me recordo bem), no lugar do mago Shazam, que dá a ele os poderes da chave harmônica do universo, baseados na energia atômica. Gritando KIMOTA (“atomik” ao contrário, no lugar de SHAZAM), ele se transforma em Marvelman, possuindo grandes poderes para fazer o bem. Juntam-se a ele depois Young Marvelman (chamado de Dick Dauntless) e Kid Marvelman (Johnny Bates), no lugar do Capitão Marvel Junior (Freedy Freeman cujo visual inspirou muito o próprio Rei do Rock, Elvis Presley) e Mary Marvel (Mary Batson, irmã de Billy), sendo que a palavra mágica deles era “marvelman”.
Até 1963 eles tiveram várias histórias, com um sucesso grande, quando foi interrompida a produção. Não sei dizer qual o motivo, porque não me lembro de ter lido em nenhum lugar a respeito disso. Mas em 1963 a revista foi encerrada.
Entretanto, em 1982, Alan Moore, o foda (quem não acha ele foda e um dos melhores escritores de HQs de todos os tempos pode sair, xô, pode até não gostar do estilão do Rouxinol de Northampton, mas tem que se admitir isso, que ele é bom e importante para as HQs como um todo), criou um projeto com a revista Warrior (uma publicação inglesa de quadrinhos), para dar continuidade a Marvelman. Como tava com tanto rolo de “Marvel” nos quadrinhos, eles rebatizaram para Miracleman e pronto. Eu sinceramente acho Miracleman um nome muito melhor e, putz, tomara que daqui a N anos quando publicarem pro cá não resolvam mudar o nome para Milagroso ou Homem-Milagre...
Enfim, na versão de Moore, alguma coisa aconteceu com Miracleman há muitos anos. Ele começa mostrando um Mick Moran gordo, velho, casado e que constantemente tem sonhos estranhos de estar voando por entre imensidões desconhecidas pelo homem. Tudo isso muda quando no meio de um ataque terrorista, Mick se lembra da palavra que havia esquecido há tanto tempo. Ele a expele de sua boca tonta e de sua mente confusa. Kimota, novamente Miracleman renasce nesse mundo, após muitos anos preso entre dimensões confusas.
Eu não vou colocar muitos spoilers aqui, mas vou seguir dizendo que Moore fez um run interessante, para não dizer supremo em Miracleman. Ele simplesmente pegou um personagem que não era nada fantástico, mas não era ruim, uma cópia de uma cópia, e fez uma seqüência de histórias tão impressionante, com tantos conceitos e maravilhas que superou os próprios personagens iniciais. Entre os inimigos dele, posso citar o Doutor Gargunza, um gênio que nasceu no México, mas foi criado nas asperezas do Brasil, depois virou um dos gênios do Reich e, mais tardiamente, envolvido com o próprio Miracleman e sua criançao; Kid Miracleman, que ao contrário de Moran passou os anos lacrado como KidMiracleman e cresceu assim, ficando totalmente corrompido pelo poder, como uma versão assassina do Adão Negro. Ainda é preciso falar do ótimo trabalho que os desenhistas fazem, como John Totleben, Gary Leach e acho que o Alan Davis faz uma pontinha. Basicamente, os desenhos são por parte do povo que fez Monstro do Pântano com o Moore.
Miracleman era algo mais próximo a realidade e problemas humanos, coisa que Moore reproduziu em menor escala no Monstro do Pântano e depois em Watchmen. O olhar de Mick é diferente do de Miracleman, e há uma preocupação com toda a questão do mito do super homem, criado por Nietzsche, essa coisa de um ser no qual o homem deve se transformar para superar a si próprio (o que eu tenho sempre em mente foi uma das coisas mais geniais que Nietzsche já pensou e que é base da minha filosofia pessoal junto com algumas outras coisas), e colocando isso num contexto sensacional... Cacete, eu poderia elogiar essa história por mais dez páginas que nem eu nem vocês iriam se cansar de ler, porque é bom mesmo! Mas não to com todo o tempo do mundo para isso ehhehe.
Bem, depois do Moore, o Neil Gaiman fez umas histórias para o personagem. Ele se baseou muito no status que o Moore deixou quando terminou suas histórias (sim, porque o bacana disso é que há uma grande mudança no mundo em si), e são histórias bem legais, mais calmas, sem tanta ação e sobre várias coisas e formas de pensar. Que foram, infelizmente, barradas juridicamente.
Por quem? Marvel? DC? Mick Anglo? Nãoooooooooooooooo. Todd McFarlane!
Filho da puta esse McFarlane. Deixe-me explicar outro ponto. É provável que a maioria já saiba de tudo isso que estou falando, mas tenho que dizer mesmo assim. No começo dos anos 90, uma galera que formava a nova vanguarda de desenhistas debandou de suas editoras para formarem a Image. Entre os mais conhecidos, Rob Liefield, Jim Li, Marc Silvestri e o Todd McFarlane (e vários outros). A Image era uma editora que colocava arte em primeiro lugar e roteiro depois e, bem, a arte também não era lá aquelas coisas, pois priorizava o dinamismo antes de tudo, se fosse ação extrema, se fosse porradaria e visuais loucos e coisas assassinas e etc, tava ótimo, e assim, vendeu muito! Vendeu porque era novidade e tudo mais, mas foi do tipo de coisa que agora, vendo bem, não era tão bom, na verdade, era uma merda...
Enfim, o Gaiman escreveu algumas coisas para o McFarlane, do Spawn, criou vários conceitos e personagens que o McFarlane nunca pagou para o Gaiman e que foi usando a rodo, além disso, ele teria colocado o Miracleman no meio do lance, sendo que o Moore tinha deixado os direitos com o Gaiman. Ou seja, teve muito rolo em relação a isso e o personagem ficou congelado. Não podia nada ser publicado ou republicado, a batalha jurídica ta demorando demais, o Gaiman escreveu até uma mini para a Marvel (1602) para custear parte dos gastos e...
Bem, até agora ficou nisso, mas recentemente o Alan Moore acabou com essa papagaiada. Ele simplesmente disse que os direitos são do Mick Anglo, o verdadeiro criador do personagem que, atualmente, está passando por dificuldades. O resto do pessoal se estapeia, mas está bem, ele estava mal... Ainda está... Então o Moore acabou com essa putaria toda, pra reverter os direitos a quem se deve. Com isso, poderão ser finalmente republicados, além disso, podem ser feitas algumas animações com o personagem, o que é algo muito bom, uma ótima notícia, aliás!
Se conseguir um tempo, farei uma série de reviews de cada edição do Moore (como eu tenho? Hahahaha usem suas imaginações a respeito de como eu consegui essas edições), então, se quiserem fazer isso antes, digo, irem ler anteriormente, façam. Porque vale muito, a pena!!! Ciao bambinos i regazzas!